BIOGRAFIA DE ÁUREO DE ARAÚJO BRAGA
A Associação dos Participantes da CBS, fugindo as suas premissas de não fazer homenagens a participantes, abre uma exceção, com o objetivo de fazer justiça à memória daquele que assumiu, em 1996, a entidade recém criada e, com a sua liderança e ajuda de outros colaboradores, coordenou a sua reestruturação para o formato atual. Definiu sua abrangência, fazendo com que se tornasse verdadeiramente a defensora dos direitos dos participantes da CBS e de seus dependentes, uma população estimada de mais de 30 mil pessoas, entre empregados da ativa, aposentados e dependentes pensionistas. Trata-se de ÁUREO DE ARAÚJO BRAGA, participante de todas as diretorias eleitas pela Instituição desde então, sendo presidente executivo eleito por vários mandatos e membro vitalício do Conselho Deliberativo.
INFÂNCIA
Áureo nasceu, no dia 02 de maio de 1933, numa família pobre, na cidade de Santos Dumond – MG, caçula dos 4 irmãos (todos já falecidos). Aos 5 anos de idade, foi vítima de um acidente doméstico, em uma brincadeira de crianças, causando-lhe, infelizmente, a perda da visão de seu olho direito.
Foram imensas as suas dificuldades na infância, com o pai enfermo e a criação dos filhos a cargo exclusivo de sua mãe, que também veio a falecer aos 33 anos, ficando Áureo órfão aos 6 anos de idade.
Sua criação, desde então, ficou a cargo de sua avó italiana, uma calabresa com incrível noção de economia, na cidade de Juiz de Fora. Com 7 anos ele já trabalhava. Fez de tudo. Foi engraxate, juntou caixa de papelão, lata velha e ainda estudava. Estava no terceiro ano ginasial, em colégio público, quando veio para Volta Redonda.
Em Volta Redonda, constituiu sua família, com sua esposa e eterna companheira Maria da Conceição e os três filhos, Marcus Vinicius, Áureo e Carla, seu genro Hendrik, sua nora Daniela e os dois netos, João Gabriel e Arthur, todos nascidos em Volta Redonda.
EM VOLTA REDONDA
Aos 19 anos, em 1952, desembarcou na estação ferroviária de Volta Redonda, vindo de Juiz de Fora, desejoso de fazer parte do grupo de brasileiros, entre eles seus irmãos Paulo, Cláudio e Joel que vieram fazer história nesta cidade que se erguia, ainda distrito de Barra Mansa, em função da instalação da maior usina siderúrgica da América Latina. Com exceção das vilas, construídas para abrigar os técnicos e operários da usina, encontrou as demais ruas da cidade, que se desenvolviam ao redor dessas vilas, de chão batido, muitas sem iluminação pública e a grande maioria das casas nesses bairros não dispunham de energia elétrica, saneamento e água tratada. Tudo ainda por ser feito.
Áureo foi testemunha da emancipação política, do nascimento da cidade de Volta Redonda, chamada carinhosamente de “Cidade do Aço”, ocorrida dois anos depois, em 17 de julho de 1954.
Em Volta Redonda, Áureo incorporou imediatamente o espírito desenvolvimentista reinante. Dedicou-se inteiramente ao trabalho na CSN durante 34 anos e meio, sem descuidar, contudo, de seus compromissos sociais para com a cidade que se formava. Paralelamente às suas atividades profissionais, cursou os antigos ginasial e científico no colégio Macedo Soares e o curso técnico em metalurgia na Escola Técnica Pandiá Calógeras, onde se formou em 1958, na primeira turma. Além destes cursos curriculares, participou de dezenas de outros cursos de formação e desenvolvimento profissional, o que lhe possibilitou o provisionamento como Administrador de Empresa e a ascensão na hierarquia da CSN, onde começou como simples Auxiliar de Almoxarifado, em 1952, e se aposentou em 1986, como Gerente Geral de Compras e Contratos, além de outras atividades exercidas pós aposentadoria, junto a outras empresas.
Como gerente na CSN, viveu as conturbações do período político ditatorial e do sindicalismo extremado que, por várias vezes, paralisou a Usina Presidente Vargas em greves, provocando comoção e apreensão, com resultados úteis questionáveis para os operários e a nossa cidade e que, provavelmente, tenha contribuído para a privatização da CSN, ocorrida em 1993.
Entre a sua admissão em 1952, como Auxiliar de Almoxarifado e sua aposentadoria, em 1986, Áureo exerceu vários cargos relevantes na área administrativa, organização e métodos de trabalho, sistemas e procedimentos e administração de materiais. Exerceu, ainda, atividades específicas, para atendimento a alta administração da CSN, visando a solução de “gargalos” surgidos em outras áreas que dificultavam o fluxo das atividades contínuas da empresa, tornando-se, para a alta administração, uma espécie de reserva técnica, profissional, ética e moral, disponível para as emergências surgidas, no modelo: “tem problema? Chama o Áureo!”
EM FAMÍLIA
Sua vida não foi só de trabalho e estudos. Reservava algum tempo para se dedicar a trabalhos comunitários, sociais e religiosos. Participou da Associação de Pais e Alunos do Colégio Macedo Soares; membro da comissão de criação e primeiro presidente da Associação de Técnicos de Volta Redonda; participou ativamente dos entendimentos com o Ministério da Educação que culminou com a instalação da Escola de Engenharia Metalúrgica em Volta Redonda; dirigiu comissões técnicas de abastecimento da Associação Brasileira de Metais; atuou, em várias gestões, como conselheiro do Clube dos Funcionários da CSN; participou, até o final de sua vida terrena, como conselheiro da APADEFI – Associação dos Pais e Amigos dos Deficientes Físicos de Volta Redonda; exerceu, por vários mandatos, atividade de conselheiro junto a Caixa Beneficente dos Empregados da Companhia Siderúrgica Nacional – CBS Previdência.
Áureo exerceu também atividade junto à Comunidade Religiosa a que pertencia, a Igreja Católica, tendo participado da construção e administração da Igreja Santa Rita de Cássia, no bairro Jardim Europa. Nesta Comunidade, juntamente com sua esposa Maria da Conceição, exerceu, por mais de 10 anos, a função de Testemunha Qualificada, oficiando cerimônias de casamentos, nas quais teve a oportunidade de celebrar centenas de uniões de casais. Colaborou, igualmente, na realização de dezenas de Encontros de Casais com Cristo.
ASSOCIAÇÃO DOS PARTICIPANTES DA CBS
O plano de expansão verificado na CSN, no período de 1978 a 1986, causou a descapitalização da Empresa e teve como consequência a falta de recursos para as suas operações produtivas, o que, aliado as altas taxas de juros do mercado verificados na ocasião e a decisão do governo de subsidiar o preço do aço para reduzir os índices inflacionários, provocou que ela entrasse num ciclo de resultados negativos que, juntamente com outros fatores, levou o governo a tomar a decisão de sua privatização. Teve início então a um período triste de nossa história, com a demissão de milhares de empregados, reduzindo a vitalidade da cidade e um grande desânimo e desesperança de todos, com relação ao futuro. Passaram todos a conviver com o capitalismo selvagem, em que o lucro é o objetivo maior e as pessoas são igualadas às máquinas, como meros instrumentos de produção.
As dificuldades econômicas e financeiras da CSN e a nova política do “tudo pelo lucro”, teve ainda reflexos extremamente negativos junto aos cerca de 8.000 empregados mantidos no quadro da empresa, aos cerca de 11.500 aposentados e aos cerca de 5.500 pensionistas, sendo estas, viúvas de empregados já falecidos, todos participantes dos planos de pensão da Caixa Beneficente dos Empregados da CSN. Todas estas pessoas que tiveram sua vida estruturada, contando com o complemento de seus benefícios recebidos após o período de suas atividades produtivas, ficaram ameaçadas pela falta de repasse dos recursos comprometidos pela CSN, parte deles descontados em folha de pagamento dos empregados, causando grande desequilíbrio nas finanças da CBS, causando forte desequilíbrio atuarial, que ameaçava o seu futuro e o futuro de seus participantes.
Diante do grave quadro acima, a consciência social de Áureo falou mais alto. Concluiu que alguém teria que abraçar esta causa, liderando a defesa dos direitos dos trabalhadores. Assumiu a presidência da, hoje, Associação dos Participantes da CBS – APCBS e participando do Conselho Deliberativo da Caixa de Pensão – CBS.
O sistema previdenciário no Brasil tem toda uma estrutura, regras, normas, resoluções, legislação específica. Existem cerca de 370 entidades como a CBS, com inúmeros planos diferentes. A partir de 1997 passou a fazer parte do Conselho Fiscal e, posteriormente, do Conselho Deliberativo da CBS. Após anos de estudos, trabalhos e muita luta, conseguiu, com sua liderança, fazer com que a CSN fizesse uma confissão de dívida, se responsabilizando pelos compromissos assumidos anteriormente, causadores do desequilíbrio atuarial naquele momento, já que, boa parte deste déficit já tinha sido pago pelos empregados participantes. Este Contrato de Dívida propiciou o reequilíbrio dos planos de pensão, trazendo tranquilidade, segurança e a manutenção dos benefícios dos participantes pelo resto de suas vidas. Esta foi uma primeira batalha bem sucedida. Muitas outras batalhas se sucederam na atuação do Áureo como conselheiro, por várias gestões, junto a CBS, sempre atento, estudioso e defensor, com grande empenho, dentro de seus princípios técnico, ético e moral, com o objetivo de lutar pelo coletivo, pelo social antes de qualquer defesa individual, personalista de quem quer que fosse. Nunca foi sua preocupação a geração de ganhos adicionais para si ou para outrem, preocupava-se em suas defesas o estabelecimento da saúde financeira da CBS e equilíbrio atuarial de seus planos de forma que, aqueles que planejaram suas vidas contando com o complemento de seus benefícios, não se frustrassem deixando de realizá-los.
Áureo, cidadão natural de Minas Gerais, mas, pelos seus relevantes serviços, foi agraciado com os títulos de “Cidadão Voltaredondense” e de “Cidadão Pioneiro”, ambos outorgados pela Câmara Municipal de Volta Redonda.
Ele se foi, no dia 04 de julho de 2018, mas nos deixa, além da saudade, um grande exemplo e um grande legado que temos como obrigação preservá-lo, pois, como gostava de dizer, “Deus não nos deu talentos para serem enterrados, nos deu para serem multiplicados”. Pelos frutos, percebe-se que ele foi, sem dúvida, um homem de muitos talentos entre nós.
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