Pedra no sapato
Oposição perde a eleição graças ao ‘voto de cabresto’ pró-CSN
A CSN pode ter vencido as eleições para os conselhos Fiscal e Deliberativo da CBS, realizadas na sexta, 15. Mas quem saiu fortalecida do pleito foi, sem dúvida, a Associação dos Participantes da CBS (AP-CBS). A entidade conseguiu um feito de fazer inveja ao empresário Benjamin Steinbruch. Conquistou (sem pressão ou cobrança) o voto de milhares de pensionistas, a grande maioria idosas, com dificuldade de se locomover, usuários de muleta e até cadeirantes. Gente preocupada com o que vem por aí. E que, a partir de agora, vai acompanhar, mais do que nunca, as decisões que forem tomadas pelos conselheiros eleitos, quase todos ligados à CSN. E prometem chiar quando alguma coisa sair errado.
Em entrevista ao aQui, o líder da chapa 1, Áureo Braga, desabafou. O tom do desafogo não foi de quem perdeu algo e agora sai disparando críticas ao adversário. Muito pelo contrário. Áureo não sente que saiu enfraquecido. “Nós saímos muito bem desta eleição. Não levamos os conselhos, mas ganhamos força. Se já éramos fortes antes, ficamos muito mais agora. E além de fortes, descobrimos que não estamos sozinhos, tem muita gente nos apoiando. Perdemos na procuração, mas ganhamos no voto. Isto todo mundo viu, inclusive a CSN”, pontuou.
Apesar de não ter sido eleito conselheiro da CBS, Áureo permanece como presidente da Associação dos Participantes da CBS. Como tal, ele acredita que vai ser mais fácil fiscalizar e acompanhar os passos dos conselheiros eleitos. Se uma decisão tomada não for boa para a entidade, muito menos para os seus associados, Áureo vai agir. “A Legislação está do nosso lado. Se precisarmos de qualquer documento, ata, ou o que for, e os conselhos se recusarem a fornecer, vamos recorrer à Justiça. É nosso direito acompanhar tudo de bem perto”, ressaltou, acrescentando que apesar de não ter mais o direito de participar das decisões, nada impede que participem fiscalizando tudo.
Durante a entrevista, Áureo salientou a força que a AP-CBS tem, tanto na própria CBS quanto na CSN. E lembrou as lutas já vencidas pela Associação, ressaltando a credibilidade que a entidade conquistou junto às entidades representativas da cidade do aço. “Toda a nossa luta, nossas conquistas, foram como AP-CBS. Como conselheiro, eu participava das decisões e isto era bom porque eu tinha informações, acesso às informações sigilosas e estratégicas, mas muitas vezes me sentia engessado para resolver os problemas da Associação devido ao Código de Ética do Conselho. Agora não. Vamos conseguir muito mais coisas”, acredita.
Segundo Áureo, a primeira luta daqui pra frente será mudar o processo eleitoral para a formação dos conselhos da CBS e eliminar os votos por procuração. “Isto prejudicou muito e tumultuou todo o processo. Nós apresentamos procurações? Sim, apresentamos um total de 150. Um número simbólico que não alteraria o resultado. Estas procurações eram de associados que nos apoiavam e que estão fora de Volta Redonda. Eles nos procuraram e demonstraram interesse em contribuir com seus votos. Não houve pressão, coação ou qualquer outra coisa neste sentido”, garantiu. O mesmo, porém, não se pode falar das procurações da CSN: a empresa apresentou um total de 4.700 procurações.
Sem procuração
A ideia de Áureo é mudar o regulamento das eleições da CBS para democratizar o pleito. “Nós já constituímos uma comissão que vai cuidar disto. Nas próximas eleições não vai mais existir o voto por procuração. Se a gente tivesse mexido nisto antes das eleições, teríamos ganhado”, disse. Áureo tem razão. Afinal, 4.067 pessoas compareceram para votar. Destas, 3.701 votaram na chapa 1, que obteve um total de 3.851 votos contando com as 150 procurações. A CSN teve 366 votos presenciais e 4.700 por procuração, totalizando 5.066 votos.
A votação e a apuração ocorreram na sexta, 15. De acordo com Áureo, faltando poucos minutos para as 18 horas, quando iria encerrar o período para dar início a contagem dos votos, gerentes das CSN adentraram o Escritório Central, na Vila, com várias procurações nas mãos. “Chegaram calados e uniformizados. Em seguida foram registrar o voto de cada uma, um processo que durou toda a madrugada. Eu não esperei, ficou muito tarde, rompeu a madrugada. Tanto que a apuração terminou por volta das 5 horas da manhã do sábado. Quem tinha ficado ali durante toda a sexta-feira, não aguentou e foi pra casa descansar”, contou.
Áureo disse ao aQui que deixou o Escritório Central no final da noite de sexta, consciente de que as procurações iriam mudar o resultado das eleições. “Ali a gente viu que a CSN havia engrossado muito. Depois, ficamos sabendo que muitos trabalhadores, especialmente os da CSN de Porto Real, assinaram a procuração sem saber do que se tratava. Disseram que a CBS estava nas mãos do Sindicato, o que não é verdade, e que a CSN iria retomar o rumo da entidade antes que fosse tarde demais. Sem saber da verdade, os trabalhadores assinaram as procurações. Eu soube que naquela semana, o cartório de Resende recebeu muitos trabalhadores que foram levados pra lá em carros de gerente”, denunciou, esperando que o Ministério Público Federal apure o caso.
E esta não foi a única decepção de Áureo e dos integrantes da chapa 1 neste pleito. Durante entrevista, Áureo contou que no dia da votação, bombeiros da CSN foram para o Escritório Central e limitaram o número de pessoas que poderiam entrar no prédio. “De 10 em 10 pessoas, apenas”, contou Áureo, que chegou a questionar um bombeiro o porquê daquela atitude. A resposta surpreendeu: “Eles disseram que atualmente o Escritório Central não tem rota de fuga para casos extremos, como o de um incêndio ou desabamento”, revelou, abismado.
Áureo não soube dizer se os bombeiros da CSN falaram a verdade ou se houve a intenção de atrapalhar a votação, limitando o acesso das pessoas ao Escritório Central. De acordo com Áureo, a atitude dos bombeiros fez com que muita gente voltasse pra casa e desistisse de votar, já que teriam que esperar as pessoas que estavam dentro do prédio sair, para poderem entrar. “Tinha gente de muleta, cadeira de rodas. Tivemos um ‘sinhozinho’ de 94 anos, andando com a ajuda de outras pessoas, que foi lá só para nos apoiar. Imagina ter que fazer uma pessoa destas esperar do lado de fora? Não existe isto”, reclamou.
De qualquer forma, Áureo Braga espera conseguir mudar a forma de se fazer a eleição dos conselhos Fiscal e Deliberativo da CBS. A começar por dar fim ao voto de cabresto, o das procurações. E mesmo não tendo sido eleito, Áureo prometeu que vai lutar para continuar, a partir de 1º de abril quando os eleitos serão empossados, protegendo o patrimônio dos associados. Ele vai ficar ali, como uma pedra pontiaguda no calçado do novo conselho. É justo. Muito justo. É justíssimo.
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