Perigosamente Endividada

A dívida da CSN soma R$ 32 bilhões e a tendência é o valor aumentar. A informação consta da edição do fim de semana da revista “Exame”, especializada em economia, segundo a qual a tradicional resistência do empresário Benjamin Steinbruch de se desfazer de ativos pode deixar o grupo numa situação delicada. De acordo com a publicação, a alta do dólar fez a parcela da dívida externa da CSN disparar, chegando a 49% do total. Com a empresa gerando menos caixa, a empresa estaria a ponto de se comprometer na capacidade de pagamento da dívida.

A reportagem lembra que a queda de 60% no preço do minério de ferro e de 15% do aço foram responsáveis pelo prejuízo de R$ 122 milhões do Grupo CSN em 2014. A relação entre a dívida da companhia e a geração de caixa saltou de 2,9 para 4,8 vezes. Segundo a Exame, se fossem incluídos os R$ 3 bilhões tomados de empréstimos pela Transnordestina, a relação já estaria “acima de cinco vezes”.

Analistas do americano Bank of America Marril Lynch, prossegue a reportagem, estimam que o endividamento da CSN no ano que vem ultrapassará sete vezes a geração de caixa. “É um índice raramente visto entre as grandes empresas de capital aberto, considerado perigoso”, afirma o autor da matéria, citando que as concorrentes Usiminas e Gerdau têm índice de dois a três vezes a geração de caixa. “Mesmo com um caixa de mais de R$ 10 bilhões, a dívida está alta demais e preocupa”, disse à publicação o analista Artur Losnak, do banco Fator.

Depois que a agência de classificação de risco Moodsy’s rebaixou a nota de crédito da CSN, Steinbruch teria admitido a possibilidade de vender ativos a fim de reduzir a dívida para próximo de três vezes a geração de caixa. Analistas consultados pela revista apontaram que, para tanto, a CSN teria de levantar entre R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões. A disposição de Steinbruch neste sentido é, porém, posta em dúvida. Boa parte da matéria de três páginas se dedica a uma característica peculiar do empresário: “o medo, às vezes paralisante, de comprar caro e vender barato”.

Segundo a “Exame”, as primeiras reuniões de banqueiros com o dono da CSN não tiveram resultado. Um deles, sem ser identificado, resumiu: “Ou ele acha que o negócio é estratégico e não pode ser vendido ou coloca preços fora da realidade”. Até mesmo quando é obrigado a vender, como no caso das ações da Usiminas, por determinação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), Steinbruch é osso duro de roer. “Ele insiste num preço altíssimo, muito acima do valor de mercado”, disse à revista um banqueiro.

Contratado em março como diretor Executivo da companhia, o ex-executivo do Banco do Brasil e do Ministério da Fazenda, Paulo Caffarelli, é quem está encarregado de equacionar a questão e, de acordo com a reportagem, estaria propenso a privilegiar bancos credores da companhia numa possível venda, excluindo bancos de investimento que não têm crédito, o que estaria sendo visto como uma estratégia de Steinbruch para somente acalmar o mercado, não havendo na prática intenção alguma dele de se desfazer dos ativos.

A reportagem ressalta que as consequências da Operação Lava-Jato nos balanços de empresas jogam a favor do empresário: nenhum banco credor quer ser rigoroso o suficiente para forçar a CSN a reduzir o endividamento. Além disso, Steinbruch se beneficia do fato de não haver contratos estipulando limites da dívida. Enquanto isso, segundo a “Exame”, ele vem ganhando tempo, cortando custos e reduzindo investimentos. O texto é encerrado com a ressalva de que o mundo das commodities é cíclico e, da mesma forma como a dívida subiu com a queda do minério, a situação pode melhorar antes que a dívida suba ainda mais. Se não houver a virada, não restará saída para o empresário, aposta a reportagem.

Fonte: Foco Regional de 25 a 31 de maio de 2015

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